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A apresentação da obra é do professor Carlos Nobre, um dos mais renomados cientistas do clima do país

O impacto dos eventos climáticos extremos, como as catastróficas enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, coloca o tema das mudanças climáticas no centro das atenções da sociedade. Neste contexto, vem a público o livro “Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou o problema político nº 1?”, do professor João Pedro Schmidt, doutor em ciência política, docente e pesquisador da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A apresentação do livro é do professor Carlos Nobre, um dos mais renomados cientistas do clima do país. 

Fruto de 5 anos de estudos, a obra trata das alterações do clima sob o ângulo das ciências sociais, apoiando-se também em vasta bibliografia da climatologia. É colocado em evidência o papel das políticas públicas no processo de geração do desequilíbrio climático e das tentativas de correção de rumos visando um reequilíbrio. Para o autor, falta clareza acerca do fato de que as atuais mudanças climáticas não são um fenômeno natural: são um fenômeno sociopolítico que se manifesta climatologicamente. Em outras palavras: as atuais alterações do clima nada têm a ver com os ciclos naturais de aquecimento e resfriamento do planeta em eras passadas: são fruto de um certo modo de produzir, consumir e viver dos humanos, que se refletem em políticas públicas e em modos de governar. 

A primeira parte faz o diagnóstico do quadro mundial e brasileiro, abordando as relações entre o Estado de Bem-Estar e as mudanças climáticas. Com auxílio de figuras e gráficos, são apresentadas evidências de que o bem-estar humano aumentou paralelamente ao incremento da emissão de gases de efeito estufa. Na base de ambos está o capitalismo da superprodução e do superconsumo. É a partir da década de 1950, quando começou a Grande Aceleração, que este vínculo se tornou bem nítido. A partir dos anos 1970 os modelos computacionais dos cientistas do clima começaram a indicar um quadro alarmante do clima no século 21. “E as medições de temperatura nas décadas seguintes comprovou o acerto destas previsões. A ciência atestou que o forte aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera (especialmente o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso) era a causa do aquecimento global. Porém, as corporações econômicas e os governos não romperam com a lógica capitalista geradora deste quadro. No plano socioeconômico, prosseguiram as políticas públicas voltadas à aceleração do crescimento econômico (PIB). O resultado foi que a cada nova década, a temperatura média global atingiu níveis mais altos e com tendências de aceleração”, diz o professor. 

O vínculo entre o Estado de Bem-Estar e a crise climática constitui uma questão política da mais alta seriedade. “É um problema para a esquerda mundial, pois o Estado de Bem-Estar é a sua grande referência ideológica depois da queda do socialismo soviético. Isso impõe a revisão ou a busca de um novo referencial ideológico. No lado oposto, na direita e na extrema-direita, o quadro é muito pior, pois o seu referencial é o estado mínimo, a visão neoliberal, que falha nas duas pontas: não assegura o bem-estar da maioria da população e favorece a degradação ambiental, ao considerar o ambiente natural um mero insumo do processo de produção econômica. As mudanças climáticas, portanto, impõem a necessidade de reformulação do projeto político da esquerda e são o atestado de óbito do projeto da direita liberal e da extrema-direita”, complementa. 

Os seis capítulos da primeira parte cumprem um dos objetivos centrais do livro: alertam para a necessidade de um senso de urgência de governos, empresas e sociedade civil para ação imediata, dada a gravidade da questão climática. Para leitores não familiarizados com o tema do clima, a leitura destes capítulos tende a gerar inquietação. “É chocante constatar que as evidências sobre a gravidade do aquecimento global são conhecidas há décadas, mas que as medidas que poderiam evitar o pior não foram tomadas, por pressão das grandes corporações econômicas, pela conivência da maior parte dos governos e de setores importantes da sociedade civil. A busca do lucro e o anseio pelo bem-estar imediato estão no centro da pergunta do subtítulo do livro: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou, o problema político nº 1? O quadro descrito é que a situação atual é muito mais grave do que a maioria das pessoas imagina.”  

A segunda parte discute as possibilidades de solução. Partindo da premissa de que a busca do bem-estar é inerente a todas as pessoas e a todos os seres vivos, o autor elenca elementos que permitem manter a esperança. “A cooperação é condição indispensável – não a cooperação tribal, predominante ao longo da história, mas a cooperação pública e cosmopolita, expressa na colaboração entre Estado, comunidade e mercado. O objetivo comum dos povos a ser estabelecido é o bem-estar sustentável, compatível com o reequilíbrio climático. O bem-estar sustentável é possível, pois as pesquisas científicas comprovam que o bem-estar não tem a ver com alto nível de riquezas. Tem a ver com um nível satisfatório de comodidades básicas e com laços pessoais significativos, na família, com amigos, na comunidade. Um modo de vida simples – uma simplicidade elegante e sofisticada – combina com a felicidade pessoal e com a sustentabilidade socioambiental.”  

O capítulo final avalia soluções técnicas para a crise climática. São elencadas medidas testadas e aprovadas (energias limpas, reflorestamento em massa, transporte público, bicicletas, edificações sustentáveis, agricultura e pecuária regenerativas, menor consumo de carnes), meias-soluções (créditos de carbono, carros elétricos), soluções controversas (captura de carbono, biotecnologia) e não-soluções (fertilização oceânica, geoengenharia solar, refúgio em bunkers subterrâneos). Em lugar do Estado de Bem-Estar, o autor defende um novo modelo estatal – o Estado Ecossocial. E em variados movimentos sociais vislumbra as sementes da transformação: marchas pelo clima, movimento ambientalista, partidos verdes e progressistas, cidades inteligentes e democráticas, movimentos de mulheres, movimento Slow, minimalismo, Economia de Francisco e Clara, movimento agroecológico, movimento indígena, moradias compartilhadas, economia colaborativa, cicloativismo, movimento antitrabalho, vegetarianismo e veganismo. 

Entre drama e esperança, entre ameaça de fim dos tempos e possibilidades de vida feliz, a obra insiste no alerta: é preciso senso de urgência para agir e políticas públicas de largo alcance são indispensáveis. O tempo disponível para transformações socioeconômicas que evitem o agravamento da crise climática está se esgotando rapidamente.   

Lançamento do livro:
29/07, 16 horas – Sindicato dos Bancários de Santa Cruz do Sul (Rua 7 de Setembro,489 - Centro, Santa Cruz do Sul)

Clique aqui e faça o download gratuito do livro

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A apresentação da obra é do professor Carlos Nobre, um dos mais renomados cientistas do clima do país

O impacto dos eventos climáticos extremos, como as catastróficas enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, coloca o tema das mudanças climáticas no centro das atenções da sociedade. Neste contexto, vem a público o livro “Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou o problema político nº 1?”, do professor João Pedro Schmidt, doutor em ciência política, docente e pesquisador da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A apresentação do livro é do professor Carlos Nobre, um dos mais renomados cientistas do clima do país. 

Fruto de 5 anos de estudos, a obra trata das alterações do clima sob o ângulo das ciências sociais, apoiando-se também em vasta bibliografia da climatologia. É colocado em evidência o papel das políticas públicas no processo de geração do desequilíbrio climático e das tentativas de correção de rumos visando um reequilíbrio. Para o autor, falta clareza acerca do fato de que as atuais mudanças climáticas não são um fenômeno natural: são um fenômeno sociopolítico que se manifesta climatologicamente. Em outras palavras: as atuais alterações do clima nada têm a ver com os ciclos naturais de aquecimento e resfriamento do planeta em eras passadas: são fruto de um certo modo de produzir, consumir e viver dos humanos, que se refletem em políticas públicas e em modos de governar. 

A primeira parte faz o diagnóstico do quadro mundial e brasileiro, abordando as relações entre o Estado de Bem-Estar e as mudanças climáticas. Com auxílio de figuras e gráficos, são apresentadas evidências de que o bem-estar humano aumentou paralelamente ao incremento da emissão de gases de efeito estufa. Na base de ambos está o capitalismo da superprodução e do superconsumo. É a partir da década de 1950, quando começou a Grande Aceleração, que este vínculo se tornou bem nítido. A partir dos anos 1970 os modelos computacionais dos cientistas do clima começaram a indicar um quadro alarmante do clima no século 21. “E as medições de temperatura nas décadas seguintes comprovou o acerto destas previsões. A ciência atestou que o forte aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera (especialmente o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso) era a causa do aquecimento global. Porém, as corporações econômicas e os governos não romperam com a lógica capitalista geradora deste quadro. No plano socioeconômico, prosseguiram as políticas públicas voltadas à aceleração do crescimento econômico (PIB). O resultado foi que a cada nova década, a temperatura média global atingiu níveis mais altos e com tendências de aceleração”, diz o professor. 

O vínculo entre o Estado de Bem-Estar e a crise climática constitui uma questão política da mais alta seriedade. “É um problema para a esquerda mundial, pois o Estado de Bem-Estar é a sua grande referência ideológica depois da queda do socialismo soviético. Isso impõe a revisão ou a busca de um novo referencial ideológico. No lado oposto, na direita e na extrema-direita, o quadro é muito pior, pois o seu referencial é o estado mínimo, a visão neoliberal, que falha nas duas pontas: não assegura o bem-estar da maioria da população e favorece a degradação ambiental, ao considerar o ambiente natural um mero insumo do processo de produção econômica. As mudanças climáticas, portanto, impõem a necessidade de reformulação do projeto político da esquerda e são o atestado de óbito do projeto da direita liberal e da extrema-direita”, complementa. 

Os seis capítulos da primeira parte cumprem um dos objetivos centrais do livro: alertam para a necessidade de um senso de urgência de governos, empresas e sociedade civil para ação imediata, dada a gravidade da questão climática. Para leitores não familiarizados com o tema do clima, a leitura destes capítulos tende a gerar inquietação. “É chocante constatar que as evidências sobre a gravidade do aquecimento global são conhecidas há décadas, mas que as medidas que poderiam evitar o pior não foram tomadas, por pressão das grandes corporações econômicas, pela conivência da maior parte dos governos e de setores importantes da sociedade civil. A busca do lucro e o anseio pelo bem-estar imediato estão no centro da pergunta do subtítulo do livro: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou, o problema político nº 1? O quadro descrito é que a situação atual é muito mais grave do que a maioria das pessoas imagina.”  

A segunda parte discute as possibilidades de solução. Partindo da premissa de que a busca do bem-estar é inerente a todas as pessoas e a todos os seres vivos, o autor elenca elementos que permitem manter a esperança. “A cooperação é condição indispensável – não a cooperação tribal, predominante ao longo da história, mas a cooperação pública e cosmopolita, expressa na colaboração entre Estado, comunidade e mercado. O objetivo comum dos povos a ser estabelecido é o bem-estar sustentável, compatível com o reequilíbrio climático. O bem-estar sustentável é possível, pois as pesquisas científicas comprovam que o bem-estar não tem a ver com alto nível de riquezas. Tem a ver com um nível satisfatório de comodidades básicas e com laços pessoais significativos, na família, com amigos, na comunidade. Um modo de vida simples – uma simplicidade elegante e sofisticada – combina com a felicidade pessoal e com a sustentabilidade socioambiental.”  

O capítulo final avalia soluções técnicas para a crise climática. São elencadas medidas testadas e aprovadas (energias limpas, reflorestamento em massa, transporte público, bicicletas, edificações sustentáveis, agricultura e pecuária regenerativas, menor consumo de carnes), meias-soluções (créditos de carbono, carros elétricos), soluções controversas (captura de carbono, biotecnologia) e não-soluções (fertilização oceânica, geoengenharia solar, refúgio em bunkers subterrâneos). Em lugar do Estado de Bem-Estar, o autor defende um novo modelo estatal – o Estado Ecossocial. E em variados movimentos sociais vislumbra as sementes da transformação: marchas pelo clima, movimento ambientalista, partidos verdes e progressistas, cidades inteligentes e democráticas, movimentos de mulheres, movimento Slow, minimalismo, Economia de Francisco e Clara, movimento agroecológico, movimento indígena, moradias compartilhadas, economia colaborativa, cicloativismo, movimento antitrabalho, vegetarianismo e veganismo. 

Entre drama e esperança, entre ameaça de fim dos tempos e possibilidades de vida feliz, a obra insiste no alerta: é preciso senso de urgência para agir e políticas públicas de largo alcance são indispensáveis. O tempo disponível para transformações socioeconômicas que evitem o agravamento da crise climática está se esgotando rapidamente.   

Lançamento do livro:
29/07, 16 horas – Sindicato dos Bancários de Santa Cruz do Sul (Rua 7 de Setembro,489 - Centro, Santa Cruz do Sul)

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