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Notícias

Já na graduação, número não é muito diferente e chega a 61%

O Dia Internacional da Mulher é comemorado nesta sexta-feira, 8. É uma data para refletirmos sobre o papel importante da mulher na sociedade, as lutas enfrentadas e as conquistas que ainda estão por vir. Não é à toa que os resultados do Censo Demográfico 2022 apontam que o Brasil tem 6 milhões de mulheres a mais do que homens. Elas são 51,5% da população residente no país.

Essa maioria ocorre também no mercado de trabalho e vem aumentando até em áreas com predominância masculina. Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), por exemplo, elas somam 60,50% em todos os campi (Sede, Sobradinho, Venâncio Aires, Montenegro e Capão da Canoa), Hospital Veterinário e a Central Analítica em Primavera do Leste, no Mato Grosso. Já entre as estudantes nas graduações, 61% são mulheres.

E dentro destes números temos diversos exemplos de mulheres que inspiram tanto nas suas áreas como fora delas. A seguir, um exemplo de três delas que representam todas as mulheres da Unisc, neste Dia Internacional da Mulher.

mulher grande

Fernanda, Tatiana e Lia - Fotos:Bruna Lovato/Unisc

Mulher, negra e advogada com muito orgulho

Tatiana dos Santos Schuster tem 44 anos. Formada em Direito, a advogada concluiu o mestrado na Unisc e agora está no doutorado. Além do escritório próprio, realiza, um sonho que tinha há 20 anos atrás: trabalhar na Unisc. Porém, o sonho veio ainda com uma dose de magia:  ser professora de Direito na Instituição.

Mas chegar até o ponto em que está não foi fácil. Mãe solo, negra, filha de uma mãe solo, Tatiana precisou passar por muitos percalços na vida. Natural de Santa Cruz do Sul, na infância e adolescência cresceu no Arroio Grande. Dividia a casa com a mãe, a avó, uma tia e mais uma prima, esta, quase uma irmã gêmea. “Minha mãe foi industriária por 30 anos, até se aposentar. Nunca passamos fome, mas lembro que as coisas não eram fáceis. Íamos no mercado fazer o rancho do mês e minha mãe deixava escolher uma coisinha. Também lembro de ela dizer para a moça do caixa que quando a conta chegasse em determinado valor, os outros produtos não seriam mais passados.”

Aos 16 anos, ela engravidou e precisou parar os estudos. Deu à luz uma menina, chamada de Eloísa, e voltou aos estudos cerca de dois anos depois. Mãe solo, conseguiu concluir o Ensino Médio no Colégio Estadual Luiz Dourado. Lembra que precisou de ajuda também de uma vizinha para o cuidado com Eloísa, pois trabalhava de dia e estudava à noite.

A trajetória no Direito iniciou ainda no Ensino Médio quando começou a trabalhar no escritório de advocacia de Leni Nothaft. Tinha de 19 para 20 anos. Naquela época, também trabalhava como manicure para ajudar nas despesas da casa e sustentar a filha. “Lembro que a Dra. Leni me incentivou a fazer Direito, inclusive pagou minha inscrição no vestibular. Um tempo depois, tive alguns problemas financeiros e ela me ajudou novamente para não precisar abandonar o curso. Naquela época era mais difícil estudar, não tinha tantos financiamentos. E eu, uma pobre coitada, com filha, negra, não tinha com quem contar. Então, algo que sempre repito por onde quer que eu esteja ou vá, que a pessoa da Leni teve um papel muito importante na minha vida, mostrou este mundo que hoje eu estou e o que sou nele. A ela sempre serei grata”, fala.  

A conclusão do curso demorou cerca de 10 anos. E Tatiana, na maioria do tempo, sempre trabalhou na área. Depois de formada, e até um pouco antes, a vida já lhe mostrou o caminho da advocacia mesmo, na prática, em que já atua há cerca de 15 anos. Em 2020, iniciou o mestrado na Unisc e, em 2021, abriu o próprio escritório. Hoje é especialista em Direito Previdenciário, escolha feita por envolver, especialmente, os direitos sociais, auxiliando parcela da sociedade que é vulnerável. Foi a realização de dois sonhos. “Lembro que eu olhava algum colega mestre e ficava deslumbrada como uma criança na Disney. Tinha receio de também tentar, porque na graduação nunca pude me dedicar à pesquisa, eu precisava trabalhar o dia inteiro, eu tinha uma filha para criar. O mestrado me tirou da zona de conforto. Eu gostei da pesquisa. Mesmo assim, dizia que não faria doutorado. Hoje, cá estou.”

Tatiana hoje é casada e mãe também de Kauã, de 7 anos. E como contado no começo da história, sempre quis ser docente da Unisc. Na graduação, tentou entrar como funcionária, mas nunca conseguiu. “Hoje entendo que Deus tinha algo maior para mim: ser professora. É muito significativa a minha história com a Unisc. Eu gosto, eu amo estar aqui e sou muito feliz.”

E para as mulheres que estão em busca dos sonhos, Tatiana diz que o importante é respirar fundo e não perder o foco. “Acredito e quero mostrar para as pessoas (as mulheres, principalmente) que os nossos pensamentos criam a nossa realidade, e que apesar das dificuldades que temos, são necessárias para evoluir. É difícil ter filhos, ser negra em uma cidade que se intitula germânica, é desafiador, mas nunca devemos deixar com que estas dificuldades determinem o que somos, ou o que seremos. Aquela dificuldade, coloca na bagagem da caminhada que, aos poucos, ela vai se mostrando a que veio e por qual motivo veio. Se deixe mover pelos sonhos e corra atrás, nada vem de graça. O poder para qualquer coisa está dentro da gente, é seguir em frente e nunca desistir. Sempre digo que como mulher negra enfrento a dupla vulnerabilidade: mulher e negra, mas é preciso buscar, se orientar, enfrentar as adversidades, conhecer, estar e trazer para perto pessoas que se importam contigo e que queiram, realmente, te ajudar. Sempre sempre buscar. Eu galguei, dessa forma, a minha caminhada. Foi difícil, mas para quem não é? Aliás, as mulheres só ainda não estão mandando no mundo, porque não escolheram a roupa e o sapato que vão usar.”

tatiana FotoBrunaLovato

Tatiana dos Santos Schuster

Mulher no combate à tuberculose dentro do sistema prisional

Lia Gonçalves Possuelo tem 44 anos. É formada em biologia com mestrado e doutorado na área. Natural de Porto Alegre, filha de uma dona de casa e de um motorista de transporte escolar, foi a primeira na família a cursar o Ensino Superior. Veio morar em Santa Cruz do Sul em 2009. Atualmente, desenvolve na Unisc um trabalho de combate à tuberculose no sistema prisional, além de ministrar aulas nos cursos da área de saúde.

Mas a vontade de estudar sobre doenças infecciosas surgiu ainda na graduação. Em 1999, um estágio no Laboratório Central do Rio Grande do Sul (Lacen) deu a certeza do caminho que queria seguir. Naquela época, surgia a técnica de PCR, algo bastante falado durante a pandemia, uma tecnologia que consiste na amplificação de uma região específica de DNA. “E o Lacen implementava a técnica para diagnóstico de tuberculose”, lembra.

Anos mais tarde, já na Unisc, a entrada no sistema prisional foi por meio do pedido de uma aluna do Curso de Farmácia que queria fazer o Trabalho de Conclusão de Curso dentro de um presídio e falando sobre tuberculose. “De lá para cá nunca mais deixei de fazer projetos na área. Lembro que não tinha uma equipe de saúde dentro do presídio, apenas uma técnica em enfermagem. Começamos nosso trabalho em Santa Cruz do Sul e ao longo do tempo ampliamos nossos projetos de pesquisa e extensão na região e hoje temos projetos acontecendo em todo o sistema prisional do Rio Grande do Sul. A entrada de estudantes e de projetos em uma instituição não acadêmica leva a uma alteração de rotina que favorece o desenvolvimento de todos.”

Atualmente , um dos projetos coordenado por Lia aplica estratégias de triagem em apenados e educação permanente em saúde para trabalhadores que atuam no sistema prisional gaúcho. Além do Rio Grande do Sul, a iniciativa irá ocorrer em Goiás, São Paulo, Espírito Santo e também no Paraguai e Moçambique. “Começou pequeno e estamos crescendo como grupo de pesquisa. São poucas as iniciativas no sistema prisional que têm essa linha de pesquisa. O projeto acaba virando uma referência.”

Para esse crescimento, Lia não esquece do apoio da titular da 8ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR), Samantha Longo, e da servidora, coordenadora técnica regional, Pauline Schwarzbold, sempre apoiadoras da Unisc. “A saúde funciona se a segurança movimentar o preso. É preciso que as propostas sejam entendidas como importantes pelas equipes. O detento fica privado de liberdade em média, 7 anos, mas interage, diariamente, com várias pessoas que estão inseridas na sociedade, tanto os funcionários do presídio como os familiares, professores, assistentes jurídicos, entre outros. Após cumprirem a pena, eles saem de lá e retornam para a sociedade. Então é preciso garantir os direitos à saúde, trabalho e educação para que o processo de ressocialização seja possível. E trabalhar com doenças infecciosas é estratégico, pois são doenças que não ficam somente dentro dos muros da prisão.”

Mesmo sendo mulher, Lia disse que nunca sofreu nenhum preconceito, durante esses anos de trabalho nos presídios e cita como marco importante o momento em que a Unisc ofereceu bolsas de graduação para apenados. “Várias universidades comunitárias do Estado fizeram esse movimento depois disso, foi uma mudança de paradigma. E hoje, esses presídios têm uma sala de informática para as aulas de Ensino a Distância montadas pela Superintendência dos Serviços Penitenciários, que também podem ser utilizadas na educação básica. Isso se chama tratamento penal.”

Casada e com uma filha de 9 anos, a Luiza, a professora Lia repassa para a menina que as mulheres têm total capacidade para fazerem o que quiserem. “Sempre digo para ela nunca desistir dos sonhos, que precisa dar bom exemplo. Temos que ser mulheres fortes, conhecedoras dos nossos propósitos. Jamais imaginei, enquanto estudante, que hoje desenvolveria tantos projetos, com tantas possibilidades em contribuir, o mínimo que seja, na vida das pessoas.”

Lia FotoBrunaLovato

Lia Gonçalves Possuelo

Ela comanda o Time Enactus Unisc

Fernanda Ebert tem 26 anos. É estudante do 6º semestre de Psicologia da Unisc e do último semestre de Gestão em Recursos Humanos também pela Unisc. Atualmente, é presidente do Time Enactus Unisc, uma organização, que tem times pelo mundo, sem fins lucrativos, dedicada a inspirar jovens universitários a transformar vidas por meio da ação empreendedora. 

Ela conta que o voluntariado e o empreendedorismo já fazem parte da rotina dela desde a adolescência. Natural de Caxias do Sul, ela lembra que participava de atividades na escola em que auxiliava as professoras com os estudantes menores. O mesmo fazia quando veio morar em Santa Cruz do Sul. Na época, lembra que frequentavam a Copame e realizavam atividades com as crianças em determinadas datas comemorativas do ano.

Anos depois, Fernanda cursou Engenharia Civil em Porto Alegre. Lá, pôde participar de uma Empresa Júnior, que desenvolvia projetos com o auxílio de profissionais parceiros. "Ali desenvolvi a gestão na prática e consigo colocar muito do que aprendi, hoje, no Time Enactus Unisc", comenta.

Mas a Engenharia não era bem o que ela queria e mudou para Administração. Mesmo assim, sentia que precisava cursar algo na saúde. E foi na pandemia que Fernanda decidiu, de fato, o que iria cursar. Passou para a Psicologia e para o curso de Gestão. “Sempre tive esse olhar de querer fazer alguma coisa. E saber que a Unisc tem o Enactus me fez escolher essa Universidade. É uma oportunidade de ajudar as pessoas, com conhecimento. Já escolher os dois cursos é, justamente, porque trabalhar com Gestão precisa conhecer as pessoas, por isso as duas áreas, para mim, são aliadas.”

Hoje, o Time Enactus desenvolve um projeto em que auxilia escolas na colocação de hortas e ensina os alunos sobre empreendedorismo, educação financeira e sustentabilidade. Por enquanto, o trabalho é desenvolvido na Escola  Estadual Professor José Wilke. Lá, também será colocado um sistema de irrigação com água da chuva. Os recursos para o projeto foram arrecadados por meio de dois editais conseguidos no ano passado por meio do Enactus Brasil. Para esse ano, a ideia é ampliar a iniciativa. 

Fernanda gerencia um projeto com tamanha representatividade na Unisc, como o Enactus. Pensa que, hoje, as mulheres conseguiram chegar a altos cargos dentro da gestão. “Mas às vezes é difícil ser ouvida, mesmo com uma boa ideia. A mulher precisa ser firme para se destacar, chamar a atenção, mesmo tendo propriedade. Isso é um grande diferencial nas lideranças femininas que admiro hoje.”

Fernanda FotoBrunaLovato

Fernanda Ebert 

Notícias

Já na graduação, número não é muito diferente e chega a 61%

O Dia Internacional da Mulher é comemorado nesta sexta-feira, 8. É uma data para refletirmos sobre o papel importante da mulher na sociedade, as lutas enfrentadas e as conquistas que ainda estão por vir. Não é à toa que os resultados do Censo Demográfico 2022 apontam que o Brasil tem 6 milhões de mulheres a mais do que homens. Elas são 51,5% da população residente no país.

Essa maioria ocorre também no mercado de trabalho e vem aumentando até em áreas com predominância masculina. Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), por exemplo, elas somam 60,50% em todos os campi (Sede, Sobradinho, Venâncio Aires, Montenegro e Capão da Canoa), Hospital Veterinário e a Central Analítica em Primavera do Leste, no Mato Grosso. Já entre as estudantes nas graduações, 61% são mulheres.

E dentro destes números temos diversos exemplos de mulheres que inspiram tanto nas suas áreas como fora delas. A seguir, um exemplo de três delas que representam todas as mulheres da Unisc, neste Dia Internacional da Mulher.

mulher grande

Fernanda, Tatiana e Lia - Fotos:Bruna Lovato/Unisc

Mulher, negra e advogada com muito orgulho

Tatiana dos Santos Schuster tem 44 anos. Formada em Direito, a advogada concluiu o mestrado na Unisc e agora está no doutorado. Além do escritório próprio, realiza, um sonho que tinha há 20 anos atrás: trabalhar na Unisc. Porém, o sonho veio ainda com uma dose de magia:  ser professora de Direito na Instituição.

Mas chegar até o ponto em que está não foi fácil. Mãe solo, negra, filha de uma mãe solo, Tatiana precisou passar por muitos percalços na vida. Natural de Santa Cruz do Sul, na infância e adolescência cresceu no Arroio Grande. Dividia a casa com a mãe, a avó, uma tia e mais uma prima, esta, quase uma irmã gêmea. “Minha mãe foi industriária por 30 anos, até se aposentar. Nunca passamos fome, mas lembro que as coisas não eram fáceis. Íamos no mercado fazer o rancho do mês e minha mãe deixava escolher uma coisinha. Também lembro de ela dizer para a moça do caixa que quando a conta chegasse em determinado valor, os outros produtos não seriam mais passados.”

Aos 16 anos, ela engravidou e precisou parar os estudos. Deu à luz uma menina, chamada de Eloísa, e voltou aos estudos cerca de dois anos depois. Mãe solo, conseguiu concluir o Ensino Médio no Colégio Estadual Luiz Dourado. Lembra que precisou de ajuda também de uma vizinha para o cuidado com Eloísa, pois trabalhava de dia e estudava à noite.

A trajetória no Direito iniciou ainda no Ensino Médio quando começou a trabalhar no escritório de advocacia de Leni Nothaft. Tinha de 19 para 20 anos. Naquela época, também trabalhava como manicure para ajudar nas despesas da casa e sustentar a filha. “Lembro que a Dra. Leni me incentivou a fazer Direito, inclusive pagou minha inscrição no vestibular. Um tempo depois, tive alguns problemas financeiros e ela me ajudou novamente para não precisar abandonar o curso. Naquela época era mais difícil estudar, não tinha tantos financiamentos. E eu, uma pobre coitada, com filha, negra, não tinha com quem contar. Então, algo que sempre repito por onde quer que eu esteja ou vá, que a pessoa da Leni teve um papel muito importante na minha vida, mostrou este mundo que hoje eu estou e o que sou nele. A ela sempre serei grata”, fala.  

A conclusão do curso demorou cerca de 10 anos. E Tatiana, na maioria do tempo, sempre trabalhou na área. Depois de formada, e até um pouco antes, a vida já lhe mostrou o caminho da advocacia mesmo, na prática, em que já atua há cerca de 15 anos. Em 2020, iniciou o mestrado na Unisc e, em 2021, abriu o próprio escritório. Hoje é especialista em Direito Previdenciário, escolha feita por envolver, especialmente, os direitos sociais, auxiliando parcela da sociedade que é vulnerável. Foi a realização de dois sonhos. “Lembro que eu olhava algum colega mestre e ficava deslumbrada como uma criança na Disney. Tinha receio de também tentar, porque na graduação nunca pude me dedicar à pesquisa, eu precisava trabalhar o dia inteiro, eu tinha uma filha para criar. O mestrado me tirou da zona de conforto. Eu gostei da pesquisa. Mesmo assim, dizia que não faria doutorado. Hoje, cá estou.”

Tatiana hoje é casada e mãe também de Kauã, de 7 anos. E como contado no começo da história, sempre quis ser docente da Unisc. Na graduação, tentou entrar como funcionária, mas nunca conseguiu. “Hoje entendo que Deus tinha algo maior para mim: ser professora. É muito significativa a minha história com a Unisc. Eu gosto, eu amo estar aqui e sou muito feliz.”

E para as mulheres que estão em busca dos sonhos, Tatiana diz que o importante é respirar fundo e não perder o foco. “Acredito e quero mostrar para as pessoas (as mulheres, principalmente) que os nossos pensamentos criam a nossa realidade, e que apesar das dificuldades que temos, são necessárias para evoluir. É difícil ter filhos, ser negra em uma cidade que se intitula germânica, é desafiador, mas nunca devemos deixar com que estas dificuldades determinem o que somos, ou o que seremos. Aquela dificuldade, coloca na bagagem da caminhada que, aos poucos, ela vai se mostrando a que veio e por qual motivo veio. Se deixe mover pelos sonhos e corra atrás, nada vem de graça. O poder para qualquer coisa está dentro da gente, é seguir em frente e nunca desistir. Sempre digo que como mulher negra enfrento a dupla vulnerabilidade: mulher e negra, mas é preciso buscar, se orientar, enfrentar as adversidades, conhecer, estar e trazer para perto pessoas que se importam contigo e que queiram, realmente, te ajudar. Sempre sempre buscar. Eu galguei, dessa forma, a minha caminhada. Foi difícil, mas para quem não é? Aliás, as mulheres só ainda não estão mandando no mundo, porque não escolheram a roupa e o sapato que vão usar.”

tatiana FotoBrunaLovato

Tatiana dos Santos Schuster

Mulher no combate à tuberculose dentro do sistema prisional

Lia Gonçalves Possuelo tem 44 anos. É formada em biologia com mestrado e doutorado na área. Natural de Porto Alegre, filha de uma dona de casa e de um motorista de transporte escolar, foi a primeira na família a cursar o Ensino Superior. Veio morar em Santa Cruz do Sul em 2009. Atualmente, desenvolve na Unisc um trabalho de combate à tuberculose no sistema prisional, além de ministrar aulas nos cursos da área de saúde.

Mas a vontade de estudar sobre doenças infecciosas surgiu ainda na graduação. Em 1999, um estágio no Laboratório Central do Rio Grande do Sul (Lacen) deu a certeza do caminho que queria seguir. Naquela época, surgia a técnica de PCR, algo bastante falado durante a pandemia, uma tecnologia que consiste na amplificação de uma região específica de DNA. “E o Lacen implementava a técnica para diagnóstico de tuberculose”, lembra.

Anos mais tarde, já na Unisc, a entrada no sistema prisional foi por meio do pedido de uma aluna do Curso de Farmácia que queria fazer o Trabalho de Conclusão de Curso dentro de um presídio e falando sobre tuberculose. “De lá para cá nunca mais deixei de fazer projetos na área. Lembro que não tinha uma equipe de saúde dentro do presídio, apenas uma técnica em enfermagem. Começamos nosso trabalho em Santa Cruz do Sul e ao longo do tempo ampliamos nossos projetos de pesquisa e extensão na região e hoje temos projetos acontecendo em todo o sistema prisional do Rio Grande do Sul. A entrada de estudantes e de projetos em uma instituição não acadêmica leva a uma alteração de rotina que favorece o desenvolvimento de todos.”

Atualmente , um dos projetos coordenado por Lia aplica estratégias de triagem em apenados e educação permanente em saúde para trabalhadores que atuam no sistema prisional gaúcho. Além do Rio Grande do Sul, a iniciativa irá ocorrer em Goiás, São Paulo, Espírito Santo e também no Paraguai e Moçambique. “Começou pequeno e estamos crescendo como grupo de pesquisa. São poucas as iniciativas no sistema prisional que têm essa linha de pesquisa. O projeto acaba virando uma referência.”

Para esse crescimento, Lia não esquece do apoio da titular da 8ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR), Samantha Longo, e da servidora, coordenadora técnica regional, Pauline Schwarzbold, sempre apoiadoras da Unisc. “A saúde funciona se a segurança movimentar o preso. É preciso que as propostas sejam entendidas como importantes pelas equipes. O detento fica privado de liberdade em média, 7 anos, mas interage, diariamente, com várias pessoas que estão inseridas na sociedade, tanto os funcionários do presídio como os familiares, professores, assistentes jurídicos, entre outros. Após cumprirem a pena, eles saem de lá e retornam para a sociedade. Então é preciso garantir os direitos à saúde, trabalho e educação para que o processo de ressocialização seja possível. E trabalhar com doenças infecciosas é estratégico, pois são doenças que não ficam somente dentro dos muros da prisão.”

Mesmo sendo mulher, Lia disse que nunca sofreu nenhum preconceito, durante esses anos de trabalho nos presídios e cita como marco importante o momento em que a Unisc ofereceu bolsas de graduação para apenados. “Várias universidades comunitárias do Estado fizeram esse movimento depois disso, foi uma mudança de paradigma. E hoje, esses presídios têm uma sala de informática para as aulas de Ensino a Distância montadas pela Superintendência dos Serviços Penitenciários, que também podem ser utilizadas na educação básica. Isso se chama tratamento penal.”

Casada e com uma filha de 9 anos, a Luiza, a professora Lia repassa para a menina que as mulheres têm total capacidade para fazerem o que quiserem. “Sempre digo para ela nunca desistir dos sonhos, que precisa dar bom exemplo. Temos que ser mulheres fortes, conhecedoras dos nossos propósitos. Jamais imaginei, enquanto estudante, que hoje desenvolveria tantos projetos, com tantas possibilidades em contribuir, o mínimo que seja, na vida das pessoas.”

Lia FotoBrunaLovato

Lia Gonçalves Possuelo

Ela comanda o Time Enactus Unisc

Fernanda Ebert tem 26 anos. É estudante do 6º semestre de Psicologia da Unisc e do último semestre de Gestão em Recursos Humanos também pela Unisc. Atualmente, é presidente do Time Enactus Unisc, uma organização, que tem times pelo mundo, sem fins lucrativos, dedicada a inspirar jovens universitários a transformar vidas por meio da ação empreendedora. 

Ela conta que o voluntariado e o empreendedorismo já fazem parte da rotina dela desde a adolescência. Natural de Caxias do Sul, ela lembra que participava de atividades na escola em que auxiliava as professoras com os estudantes menores. O mesmo fazia quando veio morar em Santa Cruz do Sul. Na época, lembra que frequentavam a Copame e realizavam atividades com as crianças em determinadas datas comemorativas do ano.

Anos depois, Fernanda cursou Engenharia Civil em Porto Alegre. Lá, pôde participar de uma Empresa Júnior, que desenvolvia projetos com o auxílio de profissionais parceiros. "Ali desenvolvi a gestão na prática e consigo colocar muito do que aprendi, hoje, no Time Enactus Unisc", comenta.

Mas a Engenharia não era bem o que ela queria e mudou para Administração. Mesmo assim, sentia que precisava cursar algo na saúde. E foi na pandemia que Fernanda decidiu, de fato, o que iria cursar. Passou para a Psicologia e para o curso de Gestão. “Sempre tive esse olhar de querer fazer alguma coisa. E saber que a Unisc tem o Enactus me fez escolher essa Universidade. É uma oportunidade de ajudar as pessoas, com conhecimento. Já escolher os dois cursos é, justamente, porque trabalhar com Gestão precisa conhecer as pessoas, por isso as duas áreas, para mim, são aliadas.”

Hoje, o Time Enactus desenvolve um projeto em que auxilia escolas na colocação de hortas e ensina os alunos sobre empreendedorismo, educação financeira e sustentabilidade. Por enquanto, o trabalho é desenvolvido na Escola  Estadual Professor José Wilke. Lá, também será colocado um sistema de irrigação com água da chuva. Os recursos para o projeto foram arrecadados por meio de dois editais conseguidos no ano passado por meio do Enactus Brasil. Para esse ano, a ideia é ampliar a iniciativa. 

Fernanda gerencia um projeto com tamanha representatividade na Unisc, como o Enactus. Pensa que, hoje, as mulheres conseguiram chegar a altos cargos dentro da gestão. “Mas às vezes é difícil ser ouvida, mesmo com uma boa ideia. A mulher precisa ser firme para se destacar, chamar a atenção, mesmo tendo propriedade. Isso é um grande diferencial nas lideranças femininas que admiro hoje.”

Fernanda FotoBrunaLovato

Fernanda Ebert 

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